Hendrik Heijkoop

 

Hendrik Heijkoop
 
 
O irmão Hendrik Leendert Heijkoop nasceu em 25 de Setembro de 1906 sendo o décimo filho de uma família temente a Deus na Holanda. Cedo na manhã de 31 de Agosto de 1995, depois de uma vida de grande dedicação ele foi levado pelo Senhor à sua glória celestial, na idade de 88 anos, para estar ali com Cristo. O funeral ocorreu em 6 de setembro de 1995, em Winschoten na Holanda, com grande presença de irmãos de muitos países. Em seu obituário se encontrou o seguinte versículo: „Eu tenho o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor “ (Fl 1: 23).
Em sua juventude, depois de longo e profundo exercício de sua alma ele encontrou paz com Deus. Ele mesmo escreve a respeito:
„Quando tinha dezessete anos Deus me concedeu a certeza do perdão de meus pecados, mas ainda não tinha paz. Eu me encontrava neste tempo no estado de Romanos 7. Quando cheguei aos dezenove anos, encontrei paz com Deus, e aprendi o que significa estar em Cristo, e que para tais não há condenação (Rm 8: 1). Pela primeira vez em minha vida me senti feliz, e sabia que se eu morrer não iria para o inferno. Então o Senhor me mostrou a necessidade de me ocupar diariamente uma hora com a palavra de Deus. Em Winschoten, onde morava não havia assembléia naquele tempo. Quando tinha vinte e um anos, vieram dois irmãos, que eram batistas, e me perguntaram se poderíamos estudar a palavra juntos. Como os outros dois tinham menos experiência com a palavra de Deus, eu precisei ser o mestre. Sim, então o Senhor me obrigou – não contra minha vontade – estudar bastante a bíblia, de forma que abandonei meu outro estudo, para me ocupar só com a palavra de Deus. Eu me lembro ainda bem daquelas noites maravilhosas, quando precisava interromper minha leitura para primeiro agradecer, sim, adorar a Deus pelas verdades que eram tão novas e frescas para mim. Eu conheci a riqueza infinita que nós temos como crentes, e também a infinita glória do Senhor Jesus.“
Já cedo o irmão Heijkoop passou a desejar servir ao Senhor proclamando e ensinando a palavra de Deus em tempo integral. O estudo da palavra, desde aquele tempo, passou a ser sua principal ocupação e maior alegria. Ele gostava de contar oportunamente, sorrindo, que às vezes acontecia de colocar os pés numa bacia de água fria durante seus estudos noturnos para vencer o sono. Ele tinha uma fina percepção do que significava ser um despenseiro da preciosa verdade sobre a igreja de Deus. Quantas vezes ele chamava a atenção que o conhecimento da palavra de Deus só levaria ao verdadeiro conhecimento dos pensamentos de Deus, se o estudo for acompanhado de séria oração.
As condições financeiras não lhe permitiram uma formação mais elevada, e assim ao jovem Hendrik Heijkoop sobrou o caminho ao lado da formação profissional de contador, que não queria exercer „de forma nenhuma“ como confessava, como autodidata adquirir admirável conhecimento em conhecimentos gerais, mas principalmente o abrangente conhecimento da palavra de Deus.
Mal completou vinte anos, seu caminho profissional o levou para Winschoten, onde ele estava em comunhão com alguns simples irmãos, como testemunho da igreja de Deus local, e por isto já com pouca idade foi requisitado a ajudar servindo na palavra. Depois que o Senhor concedeu crescimento por alguns anos em Winschoten, surgindo um florescente testemunho, iniciou-se nos anos sessenta a conferencia de Winschoten onde a glória de Cristo e as bênçãos para sua igreja eram apresentados a jovens e velhos de forma ricamente abençoada.
Ele aproveitava seu tempo livre para servir na palavra aos crentes na Holanda e Alemanha. Naquele tempo Deus o usou para eterna benção de muitos. Muitos se converteram pelo seu ministério e vieram a crer no Salvador. Deus operou através dele de forma maravilhosa para conversão de muitas pessoas no norte da Holanda. Ele se alegrava muito quando um irmão simples agradecia com coração sincero ao Senhor durante o partimento do pão. Quando estava presente numa reunião, ele não levantava simplesmente para falar, mas sempre esperava no Senhor. Os irmãos esperavam que, pelo seu dom, sempre pudesse trazer uma mensagem, mas quando o Senhor não lhe tinha dado uma palavra, ele o dizia e permanecia calado. Suas contribuições, nas conferencias em Winschoten, mas também nas conferencias anuais de Zurique, Berlim, Dillenburg e Hückeswagen, sempre eram ricas e recheadas de Cristo e da perspectiva da breve vinda do Senhor. Ás vezes era difícil traduzir o que dizia, mas no que trazia nunca faltava poder moral e espiritual. Ouvintes (e tradutor) facilmente eram levados às lágrimas, quando apresentava os tesouros da graça e misericórdia de Deus. A Pessoa, o Sacrifício, e a maravilhosa obra de Cristo, em todos os seus maravilhosos aspectos sempre estavam no centro de suas pregações. Muitas vezes seu semblante brilhava quando falava sobre o Senhor Jesus. Então se revelava seu grande amor ao seu Senhor e Salvador, ao qual buscava servir com todos os seus dons e toda sua força.
Antes da segunda guerra mundial (1939-45) e durante os anos de guerra ele exortava os irmãos alemães a manterem sua separação da vida política na Alemanha e não participarem da perseguição aos judeus. Nos anos da proibição de reunião da assembléia na Alemanha, de 1937 até 1945 se solidificou grande união e confiança entre os irmãos Heijkoop,  Otto Müller sen., Otto Bubenzer sen., Paul Schwefel e outros irmãos, que se opuseram ao BfC. Durante a perseguição comum pelos nazistas, principalmente para o irmão Heijkoop tomou caminho especialmente dramático, motivado pelo seu auxílio pessoal a um cliente judeu durante os primeiros anos da guerra, sendo levado ao campo de concentração de Vught perto de Eindhoven e condenado à morte. Já nos primeiros dias adoeceu gravemente com problemas estomacais. Ele necessitava naquele lugar de toda a sua força, e rogou o auxílio do Senhor. Ele não compreendia porque precisava sofrer tanto. Sua saúde se restabeleceu lentamente e então foi obrigado novamente ao trabalho forçado. O Senhor permitiu que ele achasse graça aos olhos de seus supervisores, e ele foi responsabilizado pela produção de aparelhos eletrônicos na Philips (cuja fábrica foi transformada em centro de trabalho de escravos). Depois de dezoito meses ele chamou a atenção de um oficial que se lembrava que não pôde ser encontrado logo depois de ser preso. O plano deles era de liquidar Heijkoop (talvez em Auschwitz na atual Polônia). Novamente o Senhor agiu por meio de veemente pedido do senhor Philips em seu favor, de modo que não foi executado. Depois disto um dos clientes do irmão Heijkoop, de tempos anteriores à guerra, pediu ao amigo de sua filha, um jovem oficial alemão, pela facilitação da libertação de seu contador. O jovem oficial falsificou tolamente a assinatura de seu superior, e possibilitou a soltura do nosso irmão. O jovem oficial pagou com sua vida por isto, mas a situação na Holanda sitiada pelos alemães era tal, que o irmão Heijkoop não voltou a ser preso. No retrospecto a aquele tempo difícil e de privações ele imediatamente respondia: "E estes foram os mais preciosos anos em minha vida; ali passei a conhecer o meu Senhor de uma forma toda especial."
A seguir reproduziremos seu relatório "A obra de Deus na cela e no campo de concentração" nos primeiros números de "Aus dem Wort der Wahrheit" (A Partir da Palavra da Verdade) dos anos de 1946 e 1947, para uma impressão viva da perseguição de Crentes, mas também da vida espiritual nestes tempos de aflição e sofrimento:
"Segundo as perguntas me ficou claro que alguns gostariam de ouvir alguma coisa sobre a vida espiritual nas prisões e campos de concentração. Em alguns periódicos já foi escrito um pouco a respeito, mas nem todos leram. Por isto eu desejo contar um pouco tanto da minha vida como também do que vi e ouvi.
Em outubro de 1942 eu fui preso e fiquei detido na delegacia de Winschoten. Na tarde seguinte, eu e alguns outros fomos levados de carro para Groningen. No caminho precisamos parar um pouco, porque um pneu estava murcho, e neste momento um irmão passava com quem ainda pude conversar alguns minutos. Nós esquecemos o laço que une os irmãos de vez em quando, mas nestes momentos não duvidamos dele. Nosso coração diz que ele existe (1 Jo 5: 1; At 28: 15).
Em Groningen fomos entregues no Scholtenshaus, o famoso centro do serviço de segurança, e de noite fomos dali para o presídio. Lá nos tiraram tudo com exceção dum pente de bolso, como relógio, dinheiro, fotos, documentos e que foi o pior, também a bíblia. Depois fomos levados à cela. Eu fui levado à “solitária” e precisava ficar sozinho. Foi-me proibido ler, trabalhar ou comprar algo na cantina. O guarda que me levou lá era moço jovem; como soube mais tarde, ele era reformado. Ele foi muito gentil, e me explicou tudo o que os guardas costumavam fazer para nos tronar a vida mais confortável. Isto realmente parecia ser verdade. O melhor mesmo foi que ele me prometeu trazer uma bíblia. Eu devia mantê-la escondida para que não fosse vista, e caso fosse encontrada ele iria dizer que ela faz parte do inventário da cela. Dois dias depois eu a recebi. Eu jamais me esqueci da gentileza deste guarda naquele momento que tanto necessitava.
As primeiras quatro semanas permaneci na cela. No geral eu estava feliz. Não sempre. O medo do interrogatório e a preocupação com “minha casa” de vez em quando tinha supremacia. Mas a presença de Deus nunca se experimenta tanto como em dificuldades. E a leitura da palavra de Deus dá uma alegria profunda e tranqüila, que é mais forte que todas as dificuldades. Para ler a bíblia eu tinha tempo, e felizmente eu o aproveitei. Geralmente eu lia cinco a oito horas por dia. Quando a proibição de leitura foi cancelada, pude receber também outros livros. Mas logo não fiz mais uso desta liberdade. A bíblia se tornou tão preciosa, que não queria perder tempo com outros livros, além de um único relatório de viajem. Eu não fiz um estudo bíblico real. Isto eu fiz durante anos em casa, com muita alegria para meu coração. Aqui, no entanto, eu lia orando, primeiro Genesis e depois no novo testamento em Mateus 1 sempre em diante, sem comparar com outras partes e sem tentar entender o profundo significado de todas as partes. Eu deixei a palavra agir em mim e parava na primeira impressão; a maravilhosa graça e o amor, em todas as ações e palavras de Deus e do Senhor Jesus, que podem ser vistos; sua glória que não pode ficar sem ser notada mesmo quando Ele andou seu caminho em humildade; sua preocupação em todas as condições, etc. E mais tarde as santas bênçãos que são encontradas nas cartas de Paulo. Exatamente isto meu coração precisava naquele tempo. E o resultado se mostra na seguinte citação que escrevi em uma carta na minha cela: "Eu estou ótimo. Eu tento viver segundo Mateus 6: 34, Romanos 12: 12 e Filipenses 4: 4, 6 e experimento verso 7 ("E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus"). Eu posso ler cinco a oito horas na palavra e isto me faz tão feliz! Me dá tanta paz e alegria, que não pode ser expressa. Por isso posso cantar bastante. Nas duas vezes que saio para tomar ar fresco diariamente, nestes vinte e cinco minutos, eu canto quase o tempo todo, e também na cela. Ontem eu cantei: ‘Todo caminho me guia o Salvador’ e outro assoviou junto."
Só a graça de Deus pode produzir isto num fraco coração humano. E a experiência de dezenas de outros crentes, com os quais conversei, é a mesma. Um grupo de jovens de Meppel, que foram condenados à morte estavam numa cela em Scheveningen. Quando souberam que seriam fuzilados no dia seguinte, passaram a noite orando, cantando hinos de louvor e evangelizaram os internos das celas vizinhas. Outro condenado à morte, que se encontrava perto deles descreveu isto e conseguiu que sua carta fosse levada para fora do presídio. Ele mesmo foi fuzilado logo em seguida, mas a sua carta de despedida e o testemunho dos jovens presos deixam transparecer como Deus fortaleceu seu coração, dando-lhe alegria, nestes quatro meses entre a sentença e sua execução.
O senhor Scholtens, Diretor da Christlichen Bildungsanstalt (escola cristã) em Groningen, esteve preso comigo em 1942. No último tempo ele ficou com outros cinco ou seis numa cela comunitária. Ele me contou mais tarde, e outros me confirmaram, que ele orava regularmente com eles, lia e comentava a leitura, e como Deus abençoou isso. Quando fomos levados juntos para Amersfoort, eu o ouvi dizer a um familiar em Groningen: "Deus é bom!"
E também incrédulos confirmaram, como Deus operou em seus corações pela sua palavra nas celas.
No dia 20 de novembro fomos levados com catorze pessoas para a detenção da PDA (centro de triagem da polícia) de Groningen. Eu não quero me deter muito sobre a recepção e tratamento dos judeus. Ademais a situação e o ambiente na PDA 1942 só é compreensível para aqueles que passaram por lá.
Uma das coisas que mais mexeram comigo nos primeiros dias, foi o tratamento dos judeus. A situação deles era pior que dos outros presos. Os carcereiros e os guardas não podiam ver um judeu sem bater nele, e também prisioneiros holandeses, que foram selecionados para prestar algum serviço, faziam o mesmo para alcançar o favor da administração ou para permanecer nela. Eu vi como alguns deles espancaram judeus até a morte, ou os jogarem na cerca de arame farpado, onde então eram alvejados pelos vigias, para morrerem lentamente. Nunca senti tão claramente a resposta de Deus à provocação: “Caia sobre nós o seu sangue, e sobre nossos filhos!” (Mt 27: 25), em todo o seu terror, como nos primeiros dias. Eu e o Sr. Scholtens conversamos muito a respeito. E automaticamente nosso assunto passou a ser Ele, que conheceu todo sofrimento de maus tratos, do ódio e do desprezo, e isto muito mais profundo do que jamais possamos perceber (Hb 12: 2-3).
A pesar de eu saber muito bem que nada podemos por força própria, e também confiar no Senhor, me surgiu o pensamento: Outros estão sobrevivendo bem, e você também vai vencer. Você está forte e com saúde, porque não? Depois de algumas semanas ali, o Senhor me fez reconhecer que só Ele pode guardar, e que confiar em força e capacidade própria é tolice. Durante uma das terríveis revistas daquele inverno, perdi três ou quatro vezes a consciência. Pela direção de Deus fui levado ao ambulatório, onde se constatou que eu contraí uma úlcera de estomago. Segundo o olhar humano meu estado era muito grave. Como com todo recém chegado, eu perdi 1 Kg a cada dois dias nas primeiras semanas. Agora com a febre, e não suportando mais a pouca comida que recebíamos, meu estado piorou. Apesar de Deus me guardar de um estado de revolta, me surgiram pensamentos do tipo: porque, para que tudo isso. Em sua graça o Senhor me respondeu mais tarde, ao lado do citado acima, também em Vught. Ali pude fazer examinar secretamente meu processo, e fiquei sabendo que estava determinada minha transferência para um mal-falado campo de concentração alemão. Por causa da minha doença isto não aconteceu. O Sr. Scholtens deve ter sido levado para lá e em menos de um mês ele faleceu.
Bíblias não havia no acampamento. Também era rigorosamente proibido possuir uma, e também existiam traidores entre os prisioneiros. Aqueles que tinham uma bíblia eram muito cautelosos, e só a emprestavam a pessoas confiáveis. Entre eles, no entanto, elas passavam de mão em mão; um a usava durante uma hora, outro por duas horas, e assim por adiante. Quando eu estive algumas semanas na barraca dos doentes, consegui pela primeira vez uma. O caminho pelo qual descobri seu proprietário foi notório. No banheiro, onde trezentos a quatrocentos internos do barracão de doentes precisavam se lavar de manhã cedo, ouvi como um dizia a alguém que Deus dirige todas as coisas. Para comprovar ele citou alguns textos. Então citei o primeiro trecho de Zacarias 6. Um ou dois dias depois ele me reconheceu no banheiro, e me perguntou como eu entendia minha citação. Ele leu o trecho, mas não entendeu como eu o tinha ligado com o que ele falou anteriormente. Assim descobri que ele tinha uma, e logo a tomei emprestada para ler por algumas horas. Uma incalculável riqueza, quando se precisava passar algumas semanas sem ela. O dono da bíblia era um pregador reformado holandês da provincia de Groningen, que já estava há meses em Amersfoort, estando já aclimatado. Nas semanas seguintes, depois que nos conhecemos, até 7 de Janeiro de 1943, quando foram soltos, passei a ter grande respeito por ele e seus colegas, com os quais ele trabalhava. Eles foram uma benção para muitos naquele dias negros em Dezembro de 1942. Eles esperavam poder ir para casa antes do Natal, e estavam muito decepcionados quando isto não foi possível. Depois dos dias de festa, porém, disseram que estavam contentes por Deus os ter mantido lá, porque foram muito abençoados no serviço que puderam prestar ao Senhor naqueles dias.
Encontros religiosos eram rigorosamente proibidos. Mesmo assim aconteciam em algumas barracas, onde os monitores (presos) não lhe eram hostis, todos os domingos, e na enfermaria mais vezes ainda. Diante do risco os grupos sempre eram pequenos, de cinco a quinze participantes, e sempre aconteciam entre as camas, para em caso de perigo poderem sair logo. Normalmente se orava, um trecho era lido, comentado e novamente se orava. Ao todo durava uns quinze minutos. Naturalmente nunca se cantava. O interesse era grande, mas em vista do risco, só pessoas de confiança eram convidadas. Principalmente nos dias de Natal do ano de 1942 ocorreram muitos encontros assim.
Ao lado disso falávamos regularmente com os pacientes no barracão da enfermaria. Nós o fazíamos cada um no seu quarto, porque oficialmente não se podia entrar em outro quarto. Assim que pude levantar, passava pelas camas dos pacientes todas as manhãs. Naquele tempo conheci a benção do centro de concentração. Falei com dezenas de pessoas, desde a mais alta à mais baixa sociedade, tanto católicos como protestantes, crentes e crentes de nome, e até com ateus. Nenhum deles se recusava a falar sobre o Senhor Jesus. Não que todos cressem ou aceitassem o que dizíamos. Mas até onde me recordo ninguém recusou uma conversa. Ali todas as coisas sobre as quais os homens gostam se apoiar caíram por terra: Riqueza, Posição social, Conhecimento, Fama, Ambiente, Parentesco e assim por adiante. E depois quando a mascara das boas maneiras caiu sob o tratamento humilhante nestas condições terríveis, e a verdadeira natureza humana transpareceu, a dignidade e autoconfiança eram abaladas. E quando se acrescentava doença com a possibilidade de precisar morrer ali, toda a soberba era destruída. Como eram agradecidos tantas vezes, depois de despejarem o coração e nós tendo orado em seguida, repetindo algum texto ou nas vezes que tinha uma bíblia ou um novo testamento podendo ler algo dali.
Com certeza, nem todos vieram a se converter, e de alguns que o confessaram, vim a saber mais tarde, quando estavam em liberdade, ficava um interrogação. Mas ao lado disto tenho visto provas convincentes da ação do Espírito Santo. Um exemplo notável quero citar. Um senhor de aproximadamente sessenta anos, do qual soube mais tarde ser um jornalista muito conhecido, depois de preso por seis meses, foi internado em estado grave conosco. Ele esperava poder ir para casa em breve, e isto o manteve de pé. Agora ele achava que iria morrer aqui. Ele me contou que foi educado católico romano mas que desde a sua juventude ele e sua mulher não tinham se importado com nada. Agora ele prestava atenção enquanto eu falava do Senhor ou quando lia, e ele reconheceu que uma vida sem o Senhor era uma vida perdida. Certa manhã ele contou muito emocionado que recebeu uma carta de sua mulher. Sem que ela soubesse a seu respeito contava que conheceu o Senhor e pedia que ele se voltasse a Deus.
Na noite de Natal um dos pregadores citados acima recebeu permissão do monitor para contar uma história de Natal, mas que não se tratasse de evangelho natalino. Ele contou uma história de criança em que o evangelho transpareceu. Em seguida nós dois ainda cantamos um hino. Todos prestavam atenção, e muitos com lagrimas nos olhos.
Aquelas semanas no barracão da enfermaria de Amersfoort fazem parte do tempo mais feliz da minha vida. A consciência da comunhão com Deus, e do fato de estar sendo usado por Ele, e ao mesmo tempo vendo o poder da palavra de Deus enchiam meu coração de tal alegria que nada a poderia destruir.
Em 13 de Janeiro de 1943 nós fomos levados de Amersfoort para Vught num total de mais de duzentos e cinqüenta pessoas. Naquele momento não sabíamos para onde éramos levados. Como sempre seguiam boatos em Amersfoort que variavam de seguirmos a um “Campo de Extermínio” na Alemanha a um novo acampamento na Holanda. Para cada pronunciamento ou ação do SS se discutia calorosamente sobre a possível conclusão para onde iria o transporte. Nós recebemos um pedaço de pão para o caminho. A pesar da fome achamos terrível por ser pelo menos duas vezes o tamanho da nossa ração diária normal. Isto indicava que a viajem seria longa, portanto, para fora da Holanda. Quando estávamos sentados no trem observávamos medrosos a direção. Para Utrecht, portanto não para a Alemanha. Um alívio geral se espalhou. Assim chegamos a Vught. Depois de uma marcha de quase uma hora, tocados pelas armas do SS, chegamos ao acampamento. De fato era um acampamento novo e ainda não concluído. Nós éramos os primeiros prisioneiros holandeses. No dia anterior chegaram vinte criminosos profissionais de campos alemães. Estes tinham a ordem expressa de por "Ordem" nos holandeses. Se o fizessem direito seriam soltos. De fato o fizeram “muito bem”, custando a vida de centenas de prisioneiros nos primeiros seis meses. Conosco começou com uma revista pessoal e tudo que encontravam, seja de valor ou sem valor algum, nos era tirado, até os talheres. Assim perdi meu exemplar „Kurzen Erklärung über das Dritte Buch Mose“ (Breve explicação sobre o terceiro livro de Moisés), que ganhei em Amersfoort, e estava escondido na minha roupa.
As condições em Vught eram muito piores nos primeiros meses que em Amersfoort. Não só porque a comida era mais escassa. Mas os capangas alemães procuravam simular o dia inteiro um ambiente mortífero com porretes de madeira, principalmente nos primeiros dias. O pior é que não tínhamos sossego durante toda a noite. Era impossível ficar de lado alguns minutos com alguém para falar de coisas espirituais. No primeiro dia encontrei alguns pregadores crentes que dormiam embaixo de mim. No segundo ou terceiro dia encontrei o irmão Hans Jr. de Eindhoven. Geralmente precisava resumir nosso contato espiritual em uma palavra, um aperto de mão ou um animador balanço de cabeça. Em uma das primeiras semanas presenciei como um dos pregadores recebeu varias bofetadas no rosto porque falou brevemente com um agente do SS. Ele falou do evangelho para este homem do SS, e um dos capangas alemães tinha visto. Todos que podiam exercer liderança espiritual eram perseguidos sistematicamente. Assim já num dos primeiros dias chegou uma ordem que pregadores e clérigos deviam ser subdivididos nos mais pesados comandos externos. Mas também nestes dia pudemos reconhecer a mão de Deus. Algumas semanas depois veio uma ordem de Berlim, proibindo que executassem qualquer trabalho, a não ser por vontade própria.
Se formos símplices, então vemos a provisão de Deus para os seus em mil casos. Também em Vught nós vimos em incontáveis casos, cada um em sua própria vida. Mas também em casos que afetavam todos nós. Quando chegamos no dia 13 de Janeiro, nos tiraram os dois finos cobertores que trouxemos de Amersfoort, e tivemos que dormir sem qualquer coberta. Naquele tempo tinha neve e fazia frio. Uma semana depois nos devolveram uma. A maioria não tinha sobretudo nem roupa íntima ou só trapos. Todo dia tínhamos três revistas, que juntas duravam algumas horas, e a maioria precisou trabalhar no tempo o dia inteiro. Nos meses de Janeiro, Fevereiro e Março ficamos duas ou três vezes encharcados pela chuva. O tempo, desde que chegamos a Vught, estava tão ameno e seco que chamava a atenção. Eu falei uma vez com um médico descrente na área de revista, e disse que podemos ver a boa provisão de Deus para nós, porque este tempo não era natural nesta época. "Quase não se pode dizer outra coisa", respondeu ele. Mas logo depois acrescentou: "Mas os dois invernos anteriores foram tão rigorosos, e mesmo que ainda não estivéssemos presos, outros estiveram." O coração incrédulo busca as mais fortes provas da bondade de Deus e seu atendimento às orações de seus filhos, para justificar sua incredulidade. (Aqui termina o relatório do irmão Heijkoop em "Aus dem Wort der Wahrheit" [A partir da palavra da verdade].)
Durante os primeiros dias em liberdade, quando o irmão Heijkoop não tinha nada além da roupa que trazia no corpo, reconheceu nitidamente como o Senhor lhe mostrava que agora havia chegado o tempo para se dedicar com fé à obra do Senhor. Em pouco tempo o Senhor não só lhe concedeu sua independência financeira abençoando-o com significativa poupança (que pôs exclusivamente à disposição da obra do Senhor; em sua vida modesta ele era um exemplo em seu meio), mas também pelo início de grande serviço de literatura abrangente de grande alcance para benção de muitos crentes.
O Senhor lhe deu muitas oportunidades para servir fora da Holanda, nominalmente na América do Norte (principalmente Canadá), Espanha, Grã Bretanha, Suíça e Alemanha. Logo depois da queda do domínio nazista pôde reativar o contato com o recuperado testemunho da igreja na Alemanha. Heijkoop deixou se guiar pelo Espírito Santo e viajava de um lado para outro como o Senhor lhe mostrava. Assim ele realizou um importante serviço de viajem para sustento das ovelhas de Cristo. Em primeiro lugar a sua memória está no seu serviço de mestre na palavra de Deus entre os “irmãos”. Algum tempo de sua vida residiu em casa própria em Vevey junto ao lago de Genebra; Durante os anos sessenta ele ajudou as assembléias na Suíça francesa, quando um irmão muito conhecido provocou confusão entre os “irmãos” com a heresia adventista da “imortalidade condicional da alma” e da destruição dos ímpios.
Algumas vezes, contava ele, irmãos alemães vinham a ele, e pediam desculpas pelos maus tratos que sofreu nas mãos dos nazistas. Sua resposta era que não tinha que se desculpar de nada. Se estiveram andando no caminho de peregrinos, separados do mundo e de sua política, então não tinham participação na maldade do governo daquele tempo. Mas se apoiaram o regime do Hitler de alguma forma, com certeza seriam responsáveis e deveriam confessar isso imediatamente ao Senhor. Este foi um exemplo claro do porquê, que um bom soldado de Jesus Cristo não deve se envolver nos assuntos desta vida. A participação da política traz a responsabilidade da participação nos pecados de outros consigo.
Ele editava uma revista holandesa mensal com o título "Uit het Woord de Waarheid" ("A partir da palavra da verdade"), cuja finalidade era simples e basicamente tratar das verdades principais do cristianismo e estudar as bases de reunião dos crentes, junto com um folheto "De Morgenster" ("A Estrela da Manhã") que tratava de profecia, por mais de quarenta anos. Alem disso ele foi autor de grande número de livros, e que quase todos ainda podem ser encontrados,  dos quais "Cartas aos Jovens" com aproximadamente dois milhões de exemplares ao todo que deve ter alcançado a maior distribuição (em albanês, armênio, alemão, búlgaro, inglês, francês, hindu, croata, Malayalam, norueguês, punjabi, português, romeno, russo, espanhol, tagalo, tâmil, telugu, etc.).
Seus Livros e Brochuras
Principais livros e brochuras do irmão Heijkoop editados em holandez e/ou alemão (fora de ordem cronológica):
"Der Platz des Zusammenkommens für die Gläubigen" [O Lugar de Reunião para Crentes]; "Der Heilige Geist" [O Espírito Santo]; "Der Brunnen Lachai-Roi" [O Poço Laai-Roi; "Der Sohn Gottes, der mich geliebt hat" [O Filho de Deus que me Amou]; "Briefe an junge Menschen" [Cartas aos Jovens]; "Der erste Brief des Petrus" [A Primeira Carta de Pedro]; "Die Opfer. Vorträge 1968-70" [Os Sacrifícios Pregações de 1968 – 70]; "Die Opfer. Die geistliche Bedeutung der Opfer im Alten Testament" [Os Sacrifícios. Significado Espiritual dos Sacrifícios no Velho Testamento]; "Das Buch Ruth" [O Livro de Rute]; "Die Zukunft nach den Prophetien des Wortes Gottes" [O Porvir Segundo as Profecias da Palavra de Deus]; Série temática: "Auf dass Er uns zu Gott führe"[Para Levar-nos a Deus] com as seguintes pregações: Wer ist Gott und wer der Mensch [Quem é Deus e quem o Homem] (1), Buße und neue Geburt [Arrependimento e Novo Nascimento] (2), Rechtfertigung und Frieden mit Gott [Justificação e Paz com Deus] (3), Befreiung und Errettung [Libertação e Salvação] (4), Versiegelung [Selo] (5), Ewiges Leben [Vida Eterna] (6), Leitung des Heiligen Geistes [Direção do Espírito Santo] (7), Auserwählung [Eleição] (8); "Der Brief an Philemon"[A Carta à Filemom]; "Der Brief an die Epheser"[A Carta aos Efésios] ; "Aus dem Wort der Wahrheit. Gesammelte Vorträge, 5 Bände"[A partir da palavra da verdade. Pregações Selecionadas, 5 Livros]; "Gebetsheilungen, Zungenreden, Zeichen und Wunder im Lichte der Schrift"[Curas, Línguas, Sinais e Progígios à Luz da Palavra]; "Der Judasbrief"[A Carta de Judas]; "Die Versammlung des lebendigen Gottes"[A Igreja do Deus Vivo]; "Was sagt die Bibel über die Zukunft? Was sagt die Bibel über die Versammlung? Fragenbeantwortungen"[Que a Bíblia diz sobre o Futuro? Que a Bíblia diz sobre a Igreja? Perguntas e Respostas].
Em todo lugar ele trabalhou amplamente na distribuição de bíblias (principalmente da excelente versão inglesa do irmão Darby) e literatura de interpretação sadia. A distribuição de literature na Índia levou ao contato com os irmãos Ronny Fernandes em Bombay e K. Yohan em Tenali, cujo cuidado e apoio passou a ser administrado pelos irmãos da Alemanha conforme desejo do irmão Heijkoop.
Quando sectários proibiram a venda da sua edição de "Escritos Selecionados" de John Nelson Darby a todos que não faziam parte de seu exclusivo grupo, o irmão Heijkoop conseguiu providenciar a impressão suficiente de exemplares para todos so interessados por um preço bem módico. Houve um tempo em que só poucos irmãos na Europa possuíam um jogo, mas no início dos anos oitenta a maioria dos irmãos, que se encontravam ativos na vida da assembléia, já possuíam um jogo. Da mesma forma ele reprodiziu o periódico de estudo bíblico "Bible Treasury" (1856 bis 1920) do irmão William Kelly, facilitando o acesso internacional de irmãos mais jovens aos textos dos renomados escritores do século passado. Em 1995 a sua doação de "Uit het Woord der Waarheid" junto com as editoras Chapter Two de Londres, e GBV de Dillenburg, reeditaram, tendo em vista a procura e necessidade na Europa, mas principalmente nas regiões das missões e do agora aberto bloco oriental europeu. A expedição ocorreu poucos dias antes de sua morte. Também é de seu mérito a reedição de outros livros ingleses da segunda metade do século 19, sustentado por ele mesmo, como por ex. As obras de William Kelly, Charles Henry Mackintosh e George Vicesimus Wigram.
Os países do leste europeu e a missão de países do Terceiro Mundo estavam tanto em seu coração, que milhares de livros foram vendidos. Ele se alegrava em ver como o evangelho da graça de Deus se espalhava à distância. Hoje em dia muitos vivem segundo as verdades que seus livros interpretam da escritura sagrada. Infelizmente muitos se desviam da verdade em algumas regiões. Uma vez ele disse que, onde a luz resplandeceu com maior vigor, agora se vê o maior desvio e as maiores trevas. Ele se referiu antigamente à Inglaterra, mas estas palavras pode ser aplicadas hoje também à Holanda [Nota da redação: Com certeza isto também vale para a Alemanha e outros paízes].
 
Em seus últimos anos de vida sofreu de grande fragilidade na saúde e por causa do mal de Alzheimer foi atormentado por completa amnésia. No fim ele quase não reconhecia mais ninguém; não falava mais e ficou cada vez mais inalcansável. Foi triste vê-lo roubado de suas forças espirituais, que antes tinha um intelecto tão aguçado e profundo conhecimento da Sagrada Escritura. Heijkoop viveu com sua esposa em um asilo mantido pelos “irmãos” em Bonn-Mehlem, Alemanha, onde foi cuidado amorosamente. O casal não tinha filhos. Seu falecimento foi acompanhado por agradecimento ao nosso Senhor, por tal dádiva para a Sua igreja, e por tê-lo libertado de seu fraco e cançado corpo levando-o ao paraíso.
Este relatório biográfico mostra só um pouco do que o Senhor concedeu atravéz deste seu servo. Agora ele pode contemplar aquEle, de quem ele exclamou com voz emocionada em salões lotados: " ... o Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim" (Gl 2: 20). Seja nos concedido que também sigamos em fidelidade e obediência ao Senhor, até que Ele venha para nós todos nas nuvens. "Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram." (Hb 13: 7).

Os livros traduzidos para português são:
  • Estudo sobre o livro de Rute
  • O Espírito Santo
  • Cartas aos Jovens
  • Onde e Como os Crentes Devem se Reunir
  • Eventos Futuros
e podem ser encontrados no Deposito de Literatura Cristã - Boa Semente