Fazei isto em memória de mim
Lucas 22:19 e 1 Coríntios 11:24-25
O Senhor, tomando o pão na Sua mão, agradece a Deus por ele, parte-o e dá aos Seus discípulos com as palavras: “Fazei isto em memória de mim”. Nessa última noite, antes de entregar a Sua vida na cruz, o Senhor ainda estava no meio deles e podia lhes dar o pão, como também, a seguir, o cálice. Porém, não deveria ficar só nisto. Quando Ele não estivesse mais com os discípulos, eles deviam continuar fazendo isso em memória dEle. Eles o fizeram, e por isso, nós também o fazemos ainda hoje. E o apóstolo Paulo acrescenta: “Até que Ele venha” (1 Coríntios 11:26).
“Em memória de mim” — por que Ele fazia questão? O que O levou a desejar que os discípulos, em vista de Sua morte, se lembrassem dEle — esses vasos fracos, que eram tão incapazes de perceber só um pouco dos sentimentos do Seu coração? Depois de três dias, estaria como ressurreto novamente no meio deles, e Ele sabia disso! Mas os discípulos “nada disto entendiam” e “não percebendo o que se lhes dizia” (Lucas 18:34). E mesmo assim Ele desejava que o pão fosse partido em memória da Sua morte.
Era um costume antigo em Israel dar pão e algo de beber para consolar aos que estavam de luto, pois estes costumavam jejuar (2 Samuel 3:35), algumas vezes por muito tempo (1 Samuel 31:13); e nessas ocasiões, desejava-se anima-los para tomar algum alimento novamente. Numa ocasião, quando Deus anunciou juízo ao Seu povo rebelde, ameaçou-lhe, expressamente por meio do profeta Jeremias, que “não se dará pão a quem estiver de luto” (Jeremias 16:7).
Talvez isto tenha sido o pano de fundo para a ação do Senhor. No entanto, aqui não se trata de consolar aos que estão de luto, senão de se lembrar do Senhor. Sempre que o fizessem, estariam manifestando que eles não se esqueceram dEle, o Redentor que estava prestes a morrer. Não é comovedor este pensamento, de que isto era importante para Ele?
O Getsêmani ainda estava diante do Senhor, onde justamente estes discípulos demonstrariam a sua incapacidade de velar com Ele por somente uma hora; depois, aquela dura noite na qual Ele foi entregue e negado por um deles. Todos eles fugiriam e Ele continuaria o caminho até a cruz sozinho, com todo o seu horror. E, finalmente, Ele estaria só sob o juízo de Deus, inimaginavelmente só! Como estes acontecimentos tinham uma dimensão completamente diferente! Era então importante que os discípulos se lembrassem dEle? Sim, isto Lhe era importante.
Ele tinha desejado muito comer esta última Páscoa com eles antes de sofrer (Lucas 22:15). Isto acontecera, porém o seu desejo por comunhão com os Seus, mesmo depois disto, não acabara. Somente será saciado quando Sua petição seja definitivamente ouvida: “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste”. Antes disso, Seu desejo por comunhão com eles não cessará. Isto nós podemos aprender aqui.
E ainda isto: Seu morrer era realmente morrer, e a Sua morte era realmente morte, de forma que Ele estava Se ausentando como se nunca voltasse. Nós nunca devíamos, nem sequer inconscientemente, dar lugar ao sentimento de que a morte tenha perdido algo da sua plena realidade para o Senhor, pelo fato dEle ter ressuscitado ao terceiro dia.
Quando Ele diz: “Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida”, Ele acrescenta: “para tornar a tomá-la” (João 10:17). Por Ele ser o Filho de Deus, “não era possível que [Ele] fosse retido por ela [a morte]” (cf. Atos 2:24). Porém, como verdadeiro homem, Ele morreu uma morte real, cuja completa extensão O afetava muito mais profundamente, por ser sem pecado.
“Em memória de mim” — para isso esta memória tem que estar continuamente viva em nossos corações. Como outrora o aroma do “holocausto contínuo” subia dia e noite do meio dos israelitas, assim deve ser também com nossos corações (cf. Números 28:10, 23). Então podemos Lhe atestar por meio do partir do pão: “Veja, Senhor, a Tua memória está viva em nosso meio!”. Às vezes ouve-se dizer: Ele sabia que nós somos pessoas esquecidas, por isso nos deu a Ceia memorial. Se, porém, nos lembrarmos da Sua morte somente diante do pão e do cálice, então se perdeu o melhor para Ele. Disto, numerosos cristãos são um triste testemunho; aqueles que só raramente celebram a Ceia do Senhor e nos intervalos não se expõem de forma nenhuma à esta “lembrança”. Não, primeiro o coração deve estar cheio disto, e então nos sentiremos impelidos de, no primeiro dia da semana, testemunhar isto por meio do partir do pão, como os primeiros cristãos o faziam.
Certamente, o partir do pão também é um poderoso apelo para nós de, constantemente, apreendermos profundamente no coração aquilo que Ele fez por nós. Esta constante renovação da lembrança do Senhor não pode se separar da oferta daquilo que há no coração. No entanto, não se trata de que nós sejamos lembrados, senão que seja cumprido o Seu desejo: “Fazei isto em memória de mim”. Para o Senhor Jesus é importante, hoje como outrora.
Extraído do Ermunterung und Ermahnung, Julho 2000.